Tenente, que nega assassinato, diz que foi seguido por dois homens.
Comando da PM afirma que oficial pediu arma para se defender.
O tenente da Polícia Militar Iranildo Félix, apontado pela Polícia Civil como suspeito de matar a tiros o professor e lutador de MMA Luiz de França Trindade, de 25 anos, afirma que foi alvo de um atentado no final da manhã desta quarta-feira (12). Ele diz que foi perseguido por dois homens em uma motocicleta. Trindade foi assassinado na segunda-feira (10), na Zona Sul de Natal. Félix nega o crime.
A advogada Juliana Melo, que defende Félix, disse ao G1 que o suposto atentado aconteceu logo após o oficial deixar o Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), no bairro da Ribeira, onde foi submetido a exame residuográfico. O objetivo do exame é identificar a presença de chumbo nas mãos dele.
Ainda de acordo com Juliana, o tenente procurou o comandante geral da PM, coronel Francisco Araújo, e comunicou o fato. O comandante confirmou a informação. “Ele chegou aqui muito eufórico, nervoso. Disse que tinha sofrido um atentado e que queria uma arma e um colete à prova de balas para se defender. Eu o encaminhei para um promotor criminal, que ficou de ouvi-lo nesta quinta-feira”, contou Araújo.“Ontem, quando estava saindo do Itep, ele sofreu um atentado. Tentaram matar ele. Ele contou que foi seguido por dois homens numa moto, que emparelharam com o carro dele. Quando percebeu que o cara de trás colocou a mão na cintura, ele jogou o carro em cima da moto. A moto desviou e foi embora”, disse a advogada.
Superdosagem
O comandante geral da PM disse ao G1 que Félix foi socorrido a um hospital particular da cidade após ter ingerido uma alta dosagem de medicamentos. Segundo informações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que prestou o socorro, o oficial foi atendido na noite de quarta-feira. Araújo disse que o tenente permanece internado nesta quinta-feira (13).
O Samu não revelou que tipo de medicamento o tenente consumiu, nem deu detalhes sobre o estado de saúde dele.
Araújo informou que uma junta médica afastou Félix das atividades policiais há dez meses, em razão de problemas psicológicos.
O crime
Trindade foi assassinado a tiros por volta das 9h de segunda-feira (10) na calçada da academia Alta Performance, que fica na Rua Serra da Jurema, no conjunto Cidade Satélite, Zona Sul de Natal. O lutador levou vários disparos de pistola e morreu no local.
O professor de artes marciais Ademir Júnior, conhecido como 'Júnior Sustagen', também foi baleado na perna, mas passa bem. Em entrevista exclusiva ao G1, o professor disse que teve sorte de não ter se ferido gravemente e pediu justiça.
Segundo testemunhas, o suspeito de efetuar os disparos fugiu numa moto acompanhado de outro homem.
Perícia
O resultado do exame residuográfico realizado por Félix nesta quarta-feira poderá ser questionado pela defesa do oficial. “É um resultado que é considerado discutível, já que ele é um policial militar que manuseia arma com frequência”, explicou a perita Lydice Guerra, subcoordenadora de Criminalística do Itep. Ainda de acordo com o perita do Itep, o resultado do exame deve ficar pronto em no máximo 10 dias. O tenente nega qualquer envolvimento no crime.
“A informação que nós temos é que ele está de licença médica, e que não poderia sair armado. Mas, em casa, ele tem total liberdade de mexer na arma na hora que bem entender”, acrescentou a perita. A arma do tenente, segundo o delegado que investiga o caso, não foi apreendida ou periciada. “A arma dele é uma pistola 380. O calibre das balas que mataram o lutador são de pistola calibre ponto 40”, ressaltou Sílvio Fernando, delegado titular da 11ª DP.
Investigação
Segundo o delegado, Félix foi visto com uma roupa parecida com a do motociclista que efetuou os disparos contra o lutador. "Conversei com um policial militar no dia do crime e foram dadas as mesmas características que ouvi da testemunha que presenciou o crime", afirmou.
Ainda de acordo com o delegado, o policial militar teria visto o tenente logo cedo na Companhia de Polícia Militar do bairro Planalto, Zona Oeste de Natal, utilizando um moletom verde e uma bermuda antes do horário do crime. "O PM não soube explicar por qual motivo o tenente estava lá, já que ele está afastado e é lotado no CPRE (Comando do Policiamento Rodoviário Estadual)", diz. As características batem com o que foi dito em depoimento por de Ademir Júnior.
Motivação
O delegado Sílvio Fernando trabalha com duas linhas de investigação até o momento. Uma delas é que o crime pode ter sido motivado por uma traição. “Podemos estar diante de um crime passional. Temos informações de que o lutador teria se envolvido com a namorada do tenente”, afirmou.
A outra suspeita da Polícia Civil é que um desentendimento entre o PM e o lutador de MMA possa ter motivado o crime. A defesa do PM confirma que os dois se desentenderam, mas alega que o caso não foi grave. "Houve um desentendimento, mas nada muito grave. Não houve discussão mais pesada, nem agressão física", disse a advogada Juliana Melo.
De acordo com a defesa, o policial fez uma aula experimental no fim de janeiro na academia Alta Performance, onde o lutador foi assassinado, porém não gostou do treinamento. A advogada diz que, quando foi para o segundo treino, o tenente decidiu não continuar e por já ter feito o pagamento adiantado da mensalidade, teve o dinheiro devolvido. "A mudança foi para uma academia da mesma rede", disse.
Ainda segundo Juliana Melo, o tenente acredita que foi apontado como suspeito do crime devido ao desentendimento na academia e pelo fato de ser policial. "Os dois não tiveram mais nenhum tipo de contato após esse desentendimento. O oficial inclusive bloqueou a vítima nas redes sociais para não ter mais contato", afirmou a advogada.
'Álibi fraco'
O tenente Iranildo Félix prestou depoimento ainda na segunda-feira e foi liberado em seguida. O álibi apresentado pelo oficial não convenceu delegado Sílvio Fernando. No depoimento, o policial afirmou ter ido a uma outra academia por volta das 8h. No entanto, segundo o delegado, a biometria e as câmeras do local mostram que o oficial da PM chegou às 10h08, logo após o assassinato ter acontecido. "O crime ocorreu antes das 10h", afirma Sílvio Fernando. "Os percursos e os horários informados por ele não batem. O álibi é muito fraco", acrescentou o delegado.
Apesar de não ter sido convencido pelo depoimento, o delegado explica que ainda não tem elementos suficientes para indiciar o oficial da PM.
G1 RN / Via Blog do Júnior Mattos
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