domingo, 9 de fevereiro de 2014

“É luta para o resto da vida”, diz homem com 16 dependentes químicos na família

Serralheiro de 52 anos decidiu morar em comunidade que tem como objetivo tratar de dependentes de drogas.


Por Saulo de Castro

Valdemar Nunes de Oliveira tem 16 dependentes químicos na família (Foto: Alberto Leandro)
Valdemar Nunes de Oliveira tem 16 dependentes químicos na família (Foto: Alberto Leandro)

Serralheiro, casado, pais de três filhos e com 16 pessoas na família vítimas da dependência química. Essa é a realidade de Valdemar Nunes de Oveira, de 52 anos, morador do bairro Nova Natal na zona Norte da capital potiguar. O homem que é um verdadeiro exemplo de vida é categórico ao descrever o efeito devastador que droga fez na vida de sua família: “É uma luta para o resto da vida. É a coisa mais assustadora que eu já conheci”.
Seu Valdemar viu a vida se sua família sair dos trilhos quando começou a notar mudanças no comportamento de dois dos seus três filhos, na época com 12 e 13 anos de idade. Ele alega que no início achou que fosse coisa da idade, mas aos poucos foi notando que algo mais sério estava acontecendo.
Com outros casos já registrados na família, seu Valdemar conta que demorou a perceber o que de fato estava acontecendo com seus filhos. “A droga age de maneira sorrateira e se instala aos poucos e quando a gente menos espera, ela já está lá, destruindo a vida das pessoas”, diz ele.
O serralheiro de 52 anos, conta que seus filhos eram dois exemplos de pessoas. Queridos por todos, eram bons atletas e mantinham ótimo relacionamento com os colegas e boas notas na escola. Porém a vida pregou-lhe uma peça e viu-se imbuído em uma realidade que se tornou no seu maior pesadelo.
Segundo ele, a ação foi tão rápida e tão devastadora que em um espaço de dois anos, os dois filhos já estavam destruídos. “Eles não queriam mais estudar nem fazer nada, não tinham mais condições de se relacionar de maneira cordial nem comigo, nem com os amigos, nem com família”, contou.
Visivelmente emocionado e com os olhos marejados, seu Valdemar narrou aquele que para ele foi o momento em que ele percebeu que estava no fundo do poço. Ele conta que certo dia, estava em casa vendo televisão na sala com a esposa, quando ouviu o barulho de um carro. Era o seu filho, que transtornado com o efeito do entorpecente anunciou que teria que levar a TV para trocar por droga. “Ele estava desesperado e desnorteando. Em um primeiro momento pensei em reagir, mas com pena da minha mulher que estava muito assustada, deixei ele levar o aparelho e fiquei ali por cerca de 20 minutos olhando para a parede sem acreditar no que tinha acontecido. Tinha acabado de ser assaltado pelo meu próprio filho”, lembrou.
A partir de então, ele começou a procurar ajuda na rede pública de saúde, porém não alcançou o resultado esperado. Foi então que conheceu uma casa que tratava de pessoas com dependência e passou a se informar e participar de um grupo de apoio. “Aquilo foi tão libertador pra mim, me fez perceber que era possível fazer algo, que aquele quadro não era definitivo”.
O tempo foi passando, e seu Valdemar começou a sentir a necessidade de dar um paço além. Então conheceu outras pessoas que tinham o mesmo ideal e juntos resolveram criar uma associação sem fins lucrativos para tratamento de dependentes químicos. Mas a sua necessidade de ajudar o outro não parava por aí. Seu Valdemar decidiu morar na comunidade e vivenciar de perto a realidade dos dependentes que assim como os seus filhos precisam de ajuda.
Mas seu Valdemar reconhece que ainda tem muito trabalho pela frente. Atualmente, um dos seus filhos está preso em Alcaçuz cumprindo pena por assalto e o outro está casado, também trabalha como serralheiro e está esperando um filho, mas ainda vive à sombra da droga. “O dependente químico trabalha sempre com aquela sombra do desejo da reincidência do uso constante. Eu já conheci pessoas que chegaram a passar até oito anos sem usar nada, mas ainda assim recaíram”, acrescenta.
Além dos dois filhos, ele tem ainda um irmão que vive nas drogas desde os 18 anos e uma irmã a qual ele acredita estar morta já. Ela estava presa no Ceará e nunca mais deu notícias. Sem falar nos outros que ele não costuma manter contato.
Mesmo diante de tudo isso, seu Valdemar diz que não é uma pessoa infeliz. Ele se sente, na verdade, desafiado a cada dia, a vencer uma nova etapa. Para ele é inevitável dizer que a droga não tenha causado uma desarticulação material e emocional absurda, mas o segredo para encarar tudo isso está exatamente a perseverança, o ato de não desistir nunca. “Obstáculos vão surgir, o desânimo e o cansaço, também, mas é preciso permanecer esperançoso”, finalizou.
Vídeo
Via Portal No Ar

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ATENÇÃO !!!

Prezado Amigo Web-Leitor, não publicarei comentários anônimos e, também, não aceito nenhum tipo de ofensas morais que possam vir a denigrir a imagem de alguém e não me responsabilizo por comentários que alguém possa vir fazer.
Pois, antes de fazer o seu comentário, se identifique e se responsabilize.

Desde já fico grato !!!

Cordiais saudações,

CLAUDISMAR DANTAS -
(Editor - Blog PATU EM FOCO).